Uma equipa internacional de investigadores reconstruiu uma super-erupção vulcânica antiga, ocorrida há cerca de 39 mil anos nos Campos Flégreos, na Baía de Nápoles (sul de Itália).
De acordo com a investigação, publicada no jornal Scientific Reports, a super-erupção emitiu para a atmosfera um volume de cinzas e detritos equivalente a oito vezes o Monte Evereste, cobrindo de cinzas uma área de cerca 2,8 milhões de quilómetros quadrados, desde a zona leste do Mar Mediterrâneo (e.g. Bulgária, Roménia) até onde é agora a Sibéria. A erupção criou uma caldeira com cerca de 6,5 quilómetros de largura. Os resultados derivaram do estudo de mais de cem afloramentos de depósitos vulcânicos, amostrados em toda a área de dispersão até à Rússia. A dimensão dos grãos mostra uma distribuição bimodal, com uma fração mais grosseira e outra mais fina, indicando a ocorrência de duas fases distintas na erupção.
Modelos computacionais, criados em colaboração com o Centro de Supercomputação de Barcelona (BCS) mostram que a erupção deste supervulcão ativo dos Campos Flégreos ter-se-á iniciado com uma fase explosiva do tipo pliniano, produzindo uma coluna eruptiva de gases vulcânicos e cinzas que ascendeu até uma altitude da ordem dos 40 km, atingindo a estratosfera. Com um volume de cerca de 54 quilómetros cúbicos, o depósito de queda cobriu uma área com mais de um milhão de quilómetros quadrados, com os produtos vulcânicos mais grosseiros a cobrir o que é agora o sul de Itália.
Logo após, uma coluna de cinzas e de material mais fino separou-se das escoadas piroclásticas então formadas ascendendo até cerca de 37 quilómetros de altitude. Desta segunda fase, resultou uma dispersão de material mais fino, com um volume da ordem de 154 quilómetros cúbicos.
A entrada de aerossóis na estratosfera provocou um arrefecimento de 9ºC na Europa de Leste e no norte da Ásia. Registou-se ainda uma diminuição da temperatura de 7,2ºC na Europa Ocidental e de 1-2ºC a nível global.
Segundo Antonio Costa, investigador do Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia (INGV), esta foi a maior erupção ocorrida na Europa nos últimos 200 mil anos. Os impactos globais a longo prazo foram tão intensos, que retardou a migração para ocidente de grupos de hominídeos modernos da Europa. A cobertura de produtos vulcânicos reduziu a área aproveitável para povoamento na Europa em cerca de 30%.